Processos de Desaparecimento
ao contrário do que pode-se pensar, desaparecimento também configura resistência. na poeira do que se apaga, está o espalhamento do tempo enquanto duração. um processo de desaparecimento implica trajetória, movimento, arco temporal, cartografia improvisada, projeto de destruição ou solução provisória para o que precisa se tornar invisível.
Rastros
chamam-se rastros o que é teimosia, insistência, desvio no arco do desaparecimento. chamam-se rastros os sons quase inaudíveis, as imagens impossíveis, aquilo que acontece quando ninguém está prestando atenção. aquilo que escapa quando ninguém está prestando atenção. em rotas de fuga, os rastros compõem uma narrativa alternativa, uma experiência autônoma desenhada através de linhas insurgentes. isso quer dizer que os rastros aparecem como resquício da trajetória que é também situação limite do apagamento; a zona fronteiriça entre ausência do que foi e presença do que quer ser. nesse lugar esboroado, a possibilidade de vida surge a partir da coleta dos traços deixados por um movimento esgotado. rastros encontram-se nas ruínas civilizatórias, nas florestas densas de trilhas semi-habitadas, nas praias poluídas e casas inventadas. rastros encontram-se na caminhada, no deslocamento e nos solos em decomposição. os rastros podem ser fabulados, co-criados por assembleias multiespécies e coletados por imagens curiosas, em alguma medida eróticas, onde o erotismo está na pele decomposta pelos seres indomáveis que tem fome de viver. chamam-se rastros tudo o que pode projetar outros mundo apesar da destruição. rastros podem ou não ser coletados. rastros podem ou não ser ativados. mas os rastros existem mesmo quando invisíveis – talvez seja nessa topografia desconhecida, alheia aos nossos olhos e intenções, que a verdadeira resistência furtiva se manifeste.